domingo, 31 de dezembro de 2017

TODA LIBERDADE DO MUNDO

TUDO É LIBERDADE NAQUELE PEDAÇO



Tudo o que nos rodeia naquele recanto é liberdade. Os animais livremente correm sem medo. O terreno arenoso vai longe, onde o meu olhar alcança é terra sem limite.

Vez por outras, as obras das mãos do homem se confundem, de tão velhas, com as obras da natureza. Ter contato com toda essa liberdade me mostrou que tudo é natural e não preciso me preocupar com muita coisa, o simples já basta, sempre.

São tão doces e dóceis os animais que se aproximam, grandes ou pequenos, carregam no olhar um ar de alegria  e satisfação. O primeiro contato, ainda com receio, mostra a total falta de costume de outras pessoas. Eu era um estranho para toda aquela liberdade.



O olhar é tão doce quanto o olhar das pessoas daquele recanto de paz e harmonia. De manhã correm, brincam, caçam. Essa é sua vida. Sou muito limitado para falar sobre aquela liberdade. 

Já que não posso explicar aquela liberdade, senti-la já basta pra mim. Queria poder transmitir tudo o que senti, mas existem coisas dentro de mim que não conseguem existir nesse mundo nem  se materializar através dos meus textos. Mas espero que as informações que consigo passar aqui sejam suficientes para mostrar tudo o que vi.



A alegria é contagiante, e não tem como não se alegrar vendo esse pequenos correndo pra um lado e pro outro. Eu pensando que era feliz entre carros, motos e prédios, descobri que a felicidade mora nas delicadezas.

Voltei da viagem com toda aquela liberdade dentro de mim e é com ela que escrevo tudo isso.




Continua...


sábado, 30 de dezembro de 2017

O SERTÃO E O SEU POVO

A SIMPLICIDADE DO POVO ME COMOVE



Sinto dentro da alma que tenho uma grandiosa responsabilidade com esse povo. Como poeta popular, escrevo e falo da vida deles como se fosse a minha própria. Sou embaixador desse povo, e me orgulho disso.

Todas as histórias, todos os ditados, todos os costumes, as diferenças, tudo isso se torna combustível para os meus versos e me sinto feliz em saber que eles, aprovam. 

Ao contrário de Patativa quando dizia: "Sou um poeta do mato / vivo afastado dos meios / a minha rude lira canta / casos bonitos e feios / eu canto os meus sentimentos / e os sentimentos alheios", eu digo: "Sou um poeta moderno / nasci na grande cidade / os meus versinhos só falam / sobre a minha mocidade / pois não falo mais que isso / devido a minha idade".

O rosto queimado de sol e as mãos calejadas da labuta diária, são as marcas que o tempo lhes ofertou, fora aquilo, tudo é luxo. A dicção quase incompreensível mostrava a simplicidade, e os sorrisos em cada final de frase, me mostrava a grandeza do ser humano composta de amor e timidez.

Os olhares, de tão doces, chegam a arder em minha pele, e a hospitalidade me faz inveja. Eles vivem com o necessário mas o necessário é o que lhes basta. Não há vaidade em nada que sai deles. 

Eu, sentado, olhando fixamente a boca do velho contando histórias, me lembrava de tudo o que faço em teatros, eventos e shows. Mas eu vejo que não sou metade daquele velho por que eu nunca vivi o que ele dizia.


Sinto-me demasiadamente feliz por saber que mesmo não tendo vivido metade do que eles falavam, eles aprovavam a minha representação e receberam com orgulho o meu trabalho, mas o que mais me comoveu depois de ter terminado de declamar uma poesia, um deles olhar pra mim e dizer: Esse é poeta mesmo!

Senti meu coração pular de alegria pelo reconhecimento daquele povo com um menino da cidade que declama coisas que ouve por ai. Me senti ali um legítimo representante da cultura popular nordestina. 

Aquela frase me coroou poeta!



Continua...

AS CURVAS DO RIO

O RIO ARACATIAÇU



A vida da gente é cheia de altos e baixos. É como um rio que bate nas pedras, faz curvas, passa por muitos ambientes ao longo de ser corpo, mas nunca deixa de seguir seu curso. Por alguns momentos, devido a sujeira, poluição, esse rio atrasa sua caminhada, fica doente, mas se limpo, seu caminho é seguido livremente.

Quantas coisas bonitas pode guardar um rio seco? Eu descobri muitas dessas belezas visitando o Rio Aracatiaçu, que fica a alguns metros da igreja de pedra construída pelos índios a 260 anos atrás. 

O rio cheio, esconde mistérios que só ele sabe, mas quando seca, expõe ao mundo muitas coisas que guardava com carinho e paciência. O rio amadurece suas beleza na cheia para nos mostrar na seca. E quem disse que o rio seco não tem beleza? 

Caminhando em direção ao rio, muitas carnaubeiras nos saudavam com suas sombras e o chão de terra nos guiava nos abrindo um mundo novo. o caminho vai estreito até o leito do rio e de repente, abre-se um descampado sem tamanho e a visão muda totalmente, e a gente sente como se estivéssemos dentro de uma bacia que a natureza criou com delicadeza.


Estávamos no meio do rio que agora era apenas uma areia grossa e cheia de brilho por causa do sol. A mata vestia as suas laterais sem fim. E pra onde se olhava, o que se via era areia.

Senti dentro de mim uma correnteza de emoção e vi que aquele rio ainda vivia. O solo, ainda fresco, guardava água no profundo. Algumas cacimbas mostravam que ainda tinha vida naquele recanto. 

Caminhamos mais um pouco e sentamos na areia, naquele dia, havia chovido mais cedo e a areia estava gelada. A paz de estar em meio aquela natureza é indescritível.


Aquele rio, que provava que ainda vivia mesmo seco, me trouxe esperança e paz e disse ao meu coração que mesmo em tempos difíceis, podemos sim viver em harmonia e transmitir um pouco de paz e amor ao coração alheio.

Se eu estava feliz, senti que o rio estava muito mais e, depois de me presentear com um dos seus tesouros, me deu tchau e me fez prometer que voltaria. 

Continua...

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

UM PATRIMÔNIO CULTURAL PERDIDO


A IGREJA DE PEDRA


Conversando com uma moradora local (minha irmã), um comentário me chamou atenção. Ela falou sobre uma igreja que havia sido construída por índios a 260 anos, e que agora não passavam de ruínas. Me informou também que a última reunião religiosa que acontecera no local foi em 1945. Como ela sabia de todas essas informações? Uma missa havia sido celebrada a pouco tempo no local e uma placa com informações lhe foi atribuída. 

Pedi que ela me levasse até o local e, ao chegar, maravilhei-me logo de cara com tamanha beleza. Eram apenas ruínas, mas eu olhava e via muito mais que isso. Algumas paredes, embora velhas, ainda resistiam ao tempo como um doente que pede ajuda a quem passa. As paredes, de pedras, largas, mostravam as forças do tempo e da natureza que ainda podiam lutar, pois sendo elas, de pedras, faziam parte da natureza.

Fiquei imaginando quanto trabalho tiveram os indígenas que a construíram, e a construíram com uma grande habilidade de trabalho. Pensei também quanto tempo levaram para erguer aquelas paredes que mais pareciam montanhas. O que me chamou muito atenção foi o esmero com que a fizeram: as pedras escolhidas, talhadas, o reboco de barro, impressionante!



Apesar de serem apenas ruínas, forças desconhecidas, boas, podem ser sentidas naquele ambiente. Um templo perdido e esquecido em meio ao mato. Cada pedra daquelas paredes, parecem ter sido benzido com o suor de quem as carregou e, segundo minha irmã, ali foram enterradas muitas pessoas, desde crianças até velhos. 

A alguns metros dali, há um grande rio seco, que em bons invernos enche muito e tem muita força as suas águas, e acredita-se que foi isso que transformou o trabalho dos índios em tantas pedras reviradas.

Andando, realmente se viam alguns ossos ainda meio recobertos pela areia. Talvez pela "descoberta" recente, muitos curiosos foram até lá ver de perto aquela obra de arte, e assim, pisando o terreno arenoso, descobriram também os ossos.

O nome da tribo que a construiu, ninguém soube informar, mas disseram que foi a primeira igreja a ser levantada em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, como consta na placa que lhe atribuíram e os devotos da mesma afirmam. 

Existe uma lenda de que a imagem dessa santa foi levada de outra igreja próxima a essa, para outra localidade e no outro dia, ao amanhecer, a mesma estava de volta ao seu local de origem, e isso aconteceu várias vezes. Conversa do povo? Não! Crença!

Não posso duvidar de nada, nem estou aqui pra isso, o que eu faço não tem nada a ver com as crenças daquele povo que, afirmo, as acho muito interessante.

Voltei muito pensativo e lembrando de tudo que vira. E o meu coração guardava tudo aquilo muito melhor que a minha câmera. A minha alma, apossou-se daquelas crenças e sei que uma vez que se acredita, é difícil não crer mais.


PELA MANHÃ, OS PASSARINHOS


PELA MANHÃ, OS PASSARINHOS




Pela manhã, os passarinhos cantavam celebrando a liberdade, e os raios do sol, passavam pelas frechas do telhado e me banhava o rosto. Já ouvia alguém na cozinha a conversar baixinho temendo acordar o visitante. O cheiro de café moído na hora tomava toda a casa que, ainda de janelas e portas fechadas, se tornara um enorme balaio de lembranças e sorrisos.

Levantei, e fui em direção a cozinha, aonde já me aguardavam para tomar aquele legítimo café, que era o único que eles conheciam e, no momento, eu também.

Com a xícara na mão, olhei pela porta dupla que haviam acabado de abrir (a parte de cima) e o céu era o mais bonito. As nuvens que eu conhecia, não formavam tantos desenhos como aqui formam, e os passarinhos, aqueles passarinhos, com toda certeza, nunca souberam o que é uma gaiola. 

Registrei em fotos, os primeiros movimentos rupestres que eu levaria pra casa, como os primeiros ruídos que ouvira outrora. E mostrei-os com tamanha admiração e brilho nos olhos que eles, acostumados a viver em meio a tanta beleza, com a maior naturalidade me perguntaram que graça eu via em tantas coisas que era comum pra eles. 




Aquele ambiente era, sem sombra de dúvidas, gasolina para os meus devaneios poéticos-literários. Para eles, apenas gravetos expostos ao sol em meio ao terreiro, para mim, um mundo novo.

O olhar do poeta, fincado naquela forma bruta de vida, se espalhava pelo horizonte e mostrava à minha alma a beleza de cada pedra, cada galho seco, cada animal que corria livremente mundo a fora e depois voltava por extinto talvez ou simplesmente por que sabiam que tudo aquilo era deles e não tinham donos, apenas companheiros que dividiam aquele taco de chão.

O sol, que dominava tudo naquele recanto, de repente perdeu sua força e, forçado a se esconder, desapareceu em meio a densa nuvem que vinha trazida por um forte vento que varreu o descampado em frente a casa. A nuvem escura, rapidamente tomou conta do mundo deles, e a chuva veio.

A chuva lavou o chão seco e encharcou minha alma de poesia.



Continua...

PRIMEIROS RUÍDOS

PRIMEIROS RUÍDOS



Eu, ainda em casa, não conseguia imaginar a explosão de delicadezas que iria receber nessa viagem. Pensei que seria como as outras vezes que fui até lá, visitar pessoas que amo. Dessa vez, a natureza combinou com a vida de me fazerem surpresa.

Ia conversando com uma amiga por mensagens, falando da ansiedade de tão somente encontrar pessoas queridas e da saudade que sentia de ir lá. Em todos os passos essa amiga me acompanhou. 

Dormi um pouco na viagem, pois na noite anterior não havia dormido, talvez por ansiedade, talvez por insônia. A viagem foi tranquila e rápida.

Chegando em Amontada, já conseguia sentir o clima interiorano batendo no meu peito e dizendo: Que satisfação ter você aqui de novo. Isso me alegrou. Peguei um moto táxi e segui, rumo à Missí, localidade da cidade de Miraíma. 

A moto ia devagar, por causa dos buracos da estrada, e eu podia sentir, de longe, o cheiro de terra molhada e ar fresco batendo no meu rosto como se me cumprimentasse e me dissessem que eu demorei a voltar lá. Saímos da estrada e entramos cancela a dentro.

Por toda parte eu via e sentia o sertão falar comigo. A babugem já começava a cobrir o chão e os animais já suspiravam aliviado por finalmente o inverno chegar depois de sete anos de seca. E todos falavam numa boca só que "para o ano" o inverno seria grande.

Desci da moto e recebi abraços, aqueles abraços que a gente torce para não acabar. Senti que estava onde deveria estar. O tempo estava frio e era quase noite, estava cansado da viagem mas com um sorriso de satisfação no rosto. A casinha alpendrada sugeria conversas e lembranças. E tudo aquilo me encantava como se fosse a primeira vez que eu estava ali.

Logo jantamos, conversamos mais e o frio da noite nos brindou com uma madrugada sossegada e silenciosa. Esses foram os primeiros ruídos da minha andança pelas terras daquele povo.

Continua...

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