domingo, 18 de fevereiro de 2018

UMA PRECE

UM POEMA, UMA ORAÇÃO


GRAVURA DE LUHAN DIAS

UMA PRECE

A vida nos faz favores
Que não podemos pagar
E entre rivais e amores
Nós podemos festejar
Nossas enormes vitórias
Contando nossas histórias
No final de nossas vidas
E entre o início e o fim
Deus foi tão bom pra mim
Nas chegadas e partidas.

Tudo quanto adquiri
Observando esse mundo
Foram coisas que vivi
Intenso em cada segundo
E guardei no coração
Levando com emoção
Aos ouvidos dos demais
E vejo que hoje em dia
Toda essa sabedoria
Só me trouxe orgulho e paz.

Que nunca chorou um dia
Por uma decepção?
Ou teve ressentimento
E assim foi pedir perdão
Ao ser que foi magoado?
Que nunca foi enganado
Ou enganou a alguém?
Eu fui, e sei muito bem
Que isso não leva a nada
Pois a pessoa magoada
Sabe o valor que ela tem.

Encontrei nessas andanças
Todo tipo, toda gente, 
Culturas, línguas, maneiras,
Cada qual mais diferente
Uma da outra, é verdade,
Escolhi a qualidade
Das tantas coisas que vi
E confesso que vivi
De tudo um pouco e garanto
Que nunca vi nenhum santo
Nas terras que percorri.

Eu falo dessa maneira
Pois sou observador
E vejo que neste mundo
Tem bastante sofredor
Que nessa vida padece
Diariamente uma prece
Eu faço por esse povo
Andarilhos mendigando
Crianças, fome passando
E nada vejo de novo.

É tão triste ver no mundo
Quem não tem onde morar
O que comer ou vestir
Nem tem água pra tomar
O simples banho do dia
E num ato de agonia
Vive pedindo nas ruas
Essas pessoas merecem
Mais atenção, pois padecem
Muito sujas, quase nuas.

As nossas terras plantadas
O mundo está engolindo
O homem não sabe nada
Todo dia poluindo
O que Deus nos fez de bom
Ouço do mundo seu som
Avisando do perigo
O que o ser humano planta
Colherá, a terra é santa
E o mundo é nosso amigo.

Rogo ao bom Deus que nos olhe
Com carinho e atenção
Pois o mundo sofre tanto
Falo com muita emoção
Peço que estenda o braço
E o nos dê um forte abraço
Pra poder nos consolar
Faço essa prece baixinho:
Nos mostre um bom caminho
Pro sofrimento acabar.

Fortaleza, 23 de Agosto de 2017

domingo, 4 de fevereiro de 2018

ARIEVALDO VIANNA E A ARTE DE FAZER RIR

O BAÚ DA GAIATICE


        Estava em casa procurando em minha mente algum tema para escrever um cordel, quando minha vista, totalmente inconsciente, parou em cima do livro “O BAÚ DA GAIATICE” do poeta Arievaldo Viana, ao qual tenho grande apreço e felicidade em ter em meu círculo de amizade. Peguei o livro e comecei a folear. Já havia passado os olhos outras vezes em alguns “causos” do livro, porém, nunca tinha parado para lê-lo com calma.

Dessa vez parei na página 130, onde o título do texto inicial era “ZÉ RAMALHO E O CORDEL” onde apresentava uma breve biografia do cantor nacionalmente conhecido e reconhecido e falava de sua profunda relação com a literatura popular. A princípio não tive muito interesse em ler tal apresentação, mas a medida que lia cada palavra o interesse crescia.

O segundo parágrafo era composto de palavras do próprio Zé Ramalho falando sobre o cordel “PELEJA DE ZÉ LIMEIRA COM ZÉ RAMALHO DA PARAÍBA” de Arievaldo, enaltecendo seu trabalho com palavras de grande admiração aos versos do poeta. Esse parágrafo me deixou bastante curioso para ter conhecimento do conteúdo poético deste folheto. 

Seguia na página ao lado a capa do folheto em tamanho real e na próxima, os versos contidos nele. O que mais me chamou atenção foi a facilidade de Arievaldo em manipular os diversos estilos de estrofes que temos na literatura de cordel. Uma peleja muito bem escrita perpassando com grande abrangência por estilos considerados dificílimos de escrever. De cada estilo, tirei a estrofe que mais me chamou atenção, me inspirando a escrever minha primeira peleja. Segue então as estrofes:

DAS “SEXTILHAS”:

LIMEIRA:
Eu sei que tu és sabido
Formado em pilogamia
Só canta prosopopéia
Ao pingo do meio dia 
Mas eu vim do “Puigatório”
Escanchado numa gia.

DO “MARTELO AGALOPADO”:

ZÉ RAMALHO:
Zé Limeira teu cantar tem liberdade
Pra dizer o que sente e o que pensa
Já cantei com Geraldo e Alveu Valença
Mas nenhum tem a tua habilidade
Tuas rimas absurdas na verdade
São da fonte a sublime inspiração
Eu tomando uma cachaça com limão
Também faço martelo agalopado
Mas o teu é de aço e foi forjado
Nas crateras vulcânicas de Plutão.

DO “CANTADOR DE VOCÊS”:

ZÉ LIMEIRA:
Este menino atrevido
Só presta levando surra
Sou o Sansão conhecido
Com a queixada da burra
Já matei os filisteus
Ramanos e fariseus 
Ninguém topa o meu revés
É 13 com 12, é 11 com 10
É 9 com 8, é 7 com 6
É 5 com 4, e mais 1
Mais 2 e mais 3
A minha pisada é quente
É um sonhim na corrente
O cantador de vocês.

DO “GABINETE”:

ZÉ RAMALHO:
Vou atender o pedido
Deste ouvinte ilustado
Meu repente é parecido
Com o céu todo estrelado
Zé Limeira do meu lado
É bom cantador também
Eu comprei um cartão
Pra viajar no trem:
Sem cartão ninguém vai
Sem cartão ninguém vem
Nem vem, nem vai,
Nem vai nem Vem,
Eu canto bem por cinquenta
Mas canto melhor por cem.
- Cante o mote do Cadete! 
Quem não canta Gabinete
Não é cantor pra ninguém!

     Finalizando o comentário sobre essa pequena parte da leitura que fiz sobre a obra “O BAÚ DA GAIATICE” de Arievaldo Viana, digo que tem sido um dos melhores livros que andei lendo nos últimos tempos e me vejo bastante inspirado e motivado a continuar escrevendo e cavalgando pelas anedotas do nosso povo, registrando suas falas que, muitas vezes, se perdem como areia no vento. 



Fortaleza, 31 de Janeiro de 2018. 
Rafael Brito

RECENTES

A POESIA E O HUMOR - CONVERSA DE AMIGO (RAFAEL BRITO)

 O HUMOR E A POESIA LADO A LADO     O humor sempre andou de mãos dadas, digo isso por que conheço muitos poetas que são também humoristas. E...