Das histórias que meu avô me contou, uma em especial, ficou em minha memória, depois de muito tempo, resolvi escrever em cordel, de um jeito fiel ao que ele contava.
Ditados populares sempre estão presentes nas nossas vidas, principalmente na infância. "Sol com chuva, casamento da raposa", é um desses ditados. De todas as histórias, eu gostava dessa em especial, pois de acordo com o personagem que falava, meu avô fazia várias vozes, distinguindo os animais que falavam na história. As fábulas fazem parte da nossa cultura, os ditados, das nossas infâncias.
Segue a história completa do "Sol Com Chuva, Casamento da Raposa" narrada em cordel por mim:
Em nossa
infância querida,
Ouvimos
muitas histórias
Que ficam
presentes sempre
Na
caixinha das memórias.
Assim vão
se eternizando
As fábulas
mais notórias.
A nossa
imaginação
É mui
fértil, sonhadora.
Acredita
em muita história
De
Trancoso, assustadora,
E sobre
animais que falam
Numa era
encantadora.
Das tantas
belas histórias
Que meu
avô me contou,
Há uma que
se destaca,
E sobre a
qual me falou:
– Eu vou
contar a história
Da raposa
que casou!
Numa
floresta morava
Uma raposa
bem esperta
Que vivia
recostada
Sobre uma
janela aberta
Procurando
namorado,
Ficando
sempre de alerta.
A
solitária raposa
Espalhou
pela floresta
Um boato
de que ela
Faria uma
grande festa
Para
escolher um parceiro,
Espantando
a dor funesta.
Logo os
animais da mata
Começaram
a espalhar
Que a
solitária raposa
Procurava
se casar,
E que uma
grande festa
Ela
pretendia dar.
Um raposão
educado
De porte
fino e falante
Dos planos
da tal raposa
Veio a
saber num instante
E achou
uma grande ideia
Apesar de
intrigante.
À raposa,
pelo rato,
Um bilhete
então mandou.
Na
cartinha, um encontro
Com a
raposa marcou.
No
encontro, ele fez juras,
E logo o
casal noivou.
Sendo
assim, anunciaram
A data do
casamento.
Fizeram
uma festança,
Sendo um
concorrido evento.
De muito
longe se ouvia
O festejo
barulhento.
A festa
foi muito grande,
Todos
foram convidados.
Todo tipo
de animal
Veio de
todos os lados.
A floresta
se enchia,
Estavam
muito animados.
Cada
animal convidado
Trouxe na
mão um presente.
E cada um
demonstrava
Estar
bastante contente
Com o
noivado bonito
Da raposa
e seu parente.
Apenas um
animal
Não trouxe
presente algum.
Inda
atentamente olhou
O que
trouxe cada um.
Depois
disse: – Meu presente
Não se
compara a nenhum!
Esse
animal curioso
Era o leão
imponente,
O rei de
todos os bichos
Muito
altivo e eloquente.
Sendo rei,
quis dar à noiva
Magnífico
presente.
Logo subiu
numa pedra,
E, para os
bichos olhando,
Falou com
sua voz altiva:
– Um
presente venerando.
Eu
ofertarei à noiva.
Algo então
vou perguntando.
Perguntou
então a ela
Sem fazer
muito cerol:
– Eu quero
saber, responda
Antes que
venha o arrebol:
Você quer
seu casamento
Num dia de
chuva ou de sol?
– Eu sou o
rei da floresta,
O
majestoso leão.
Mas uma
grande humildade
Vim à
comemoração
Quero que
sejam felizes,
Tendo paz
no coração.
“Mas digo:
se quiser sol,
Casando em
dia bonito,
Virá um
bando de pássaros
Com seus
bicos de apito
Para
atrapalhar a festa,
Pondo todo
mundo aflito.”
“Se o dia
for de chuva,
Não terá
festa animada.
Mas quem
casa em dia assim
Tem
alegria dobrada,
Sendo os
noivos bem felizes
Por toda a
sua jornada.”
A raposa, pensativa,
Demorou a
responder.
O leão,
impaciente,
Tornou
então a dizer:
– Se
decida, minha cara,
Para o
presente obter.
Sendo
ladina, a raposa,
Temia se
arrepender
Ante a
referida escolha
Que
deveria fazer.
Duvidando
do leão,
Começou a
responder:
– Acredito
que o leão
Esse poder
não detém
De
manobrar sol e chuva,
Um poder
que só Deus tem.
Mas... se
tiver? Quero sol,
Mas quero
a chuva também.
– Se o
leão poderoso
Tiver
mesmo esse poder,
É este o
meu pedido
Que ele há
de atender:
Sol e
chuva no casório
Para
ninguém se esquecer.
Quando o
leão ouviu isso,
Com ela
ficou irado:
– Duvidas
de mim, raposa?
Com isso
estou transtornado!
Como rei,
o meu poder,
Saiba que
é ilimitado!
“Por isso,
há de ter sol
E chuva em
seu casamento!
Ele será,
minha cara,
Inesquecível
evento.
Minha
palavra não volta
Esse é meu
juramento.”
Para o
espanto de todos,
Naquele
formoso dia,
Reinou sol
e reinou chuva,
Foi a
maior gritaria.
Então a
raposa esperta
Foi tomada
de alegria.
Daquele
dia em diante,
Pra ninguém
mais se esquecer
Da
promessa do leão
E do seu
grande poder,
Quando
raposa se casa
No calor,
há de chover.
Quando
ouço alguém dizer
Sol com
chuva é casamento
Da raposa
na floresta,
Me lembro
do juramento
Que o rei
leão fez a ela
Cheio de
convencimento.
Os mais
velhos nos ensinam
Tantas e
boas lições,
Tantas
histórias bonitas
Passadas
por gerações...
São,
portanto, da cultura,
Verdadeiros
guardiões.
E foi
assim que se deu
O
casamento bonito
Da raposa
e o raposo,
Como vovô
tinha dito.
Casando
raposa, assim,
O dia fica
esquisito.
Sol e
chuva, diz o dito,
É raposa
se casando.
Os mais
velhos é quem contam,
A gente
vai repassando.
Assim, a
lenda perdura,
E vai se
perpetuando.
Caro
leitor, registrei
O que meu
avô contou
Sobre o
dito tão antigo
Que nosso
povo guardou.
Espero ter
agradado
Com o que
aqui se narrou.
Raposa, quando se
casa,
A chuva
se une ao sol.
Falam alguns que é
quando,
Ao altar, sobe
espanhol.
Eu repito que é
raposa,
Leitor fiel e de
escol.
FIM
Eu me lembro dessa história mainha costumava me contar 😀
ResponderExcluirMinha mãe me dizia sempre sobre o casamento da raposa!
ResponderExcluirLindo texto e história recontada ao seu modo. Essa lenda é daquelas que ficam na mente para sempre. Sol e Chuva formam o Arco-Íris no Céu, coisa de Deus mesmo.
ResponderExcluirDiante de tão diletos versos e tanta elegância,
ResponderExcluirLogo me fizeste lembrar de minha infância!