segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

AO MEU QUERIDO POETA PATATIVA DO ASSARÉ

XILOGRAVURA DE ARIEVALDO VIANNA

Tenho um imenso amor pela obra de Patativa, li e reli tudo o que podia e continuo lendo sempre que posso. O livro "Cante lá que eu canto cá", já li diversas vezes, e sempre é como se fosse a primeira vez. Em homenagem a esse Mestre, escrevi esses simples versinhos: 

Quem dera ter a metade
Da inspiração soberana
Que te fez cantar as classes
Do palácio à choupana
Meus versos são parecido
Porém ficam esquecidos
Ao ficarem em frente aos seus
Poeta, tu és perfeito,
Cantou o sertão direito
E depois subiu à Deus.

Poeta do meu sertão
Cantador das coisas nobres
Foi o defensor dos pobres
E guardou no coração
Toda a grande emoção
Do nossos sonhos de vida
Meu poeta, tua partida
Nos fez chorar de saudade
E a tua simplicidade
Ficou em nós, repartida.

Quanto mais escrevo versos
Falando do meu sertão
Mais ainda o coração
Me leva aos cantos certos
Mais ainda fico esperto
Com a poesia que faço
E sinto que como um laço
A poesia me encanta
Eu faço parte da planta
Que nasceu nesse pedaço.

Esta planta minha gente
Tem nome de passarinho
Inventou o seu caminho
Com poesia na mente
Trouxe verdadeiramente
Os versos dos céus à terra
Cantou do sertão à serra
E falou de tudo enquanto
Falou do riso e do pranto
Dos sonhos que o pobre enterra.

Teu trabalho me inspira
Meu querido cantador
Muito grande é o amor
Que em meu peito delira
Meu falar não é mentira
Juro na lei soberana
Que meu verso não engana
A ninguém por este mundo
Meu verso é feito segundo
A fonte Patativana.

(RAFAEL BRITO)

Obrigado à todos que leem o que escrevo! 

domingo, 14 de janeiro de 2018

O POETA CELEBRA MAIS UM ANO


23 ANOS DE IDADE E DE POESIA



Todo ser entra chorando
Nesse desumano mundo
Mas eu que nasci poeta
Nasci com um dom profundo
Não foi choro, foi lamento,
Sem rima, sem pensamento,
Com um caminho a trilhar
Eu sei que eu já sabia
Ser morada pra poesia
Ser cantiga de ninar.

Naquele primeiro choro
A quatorze de janeiro
O céu encheu-se de estrelas
As nuvens sem paradeiro
Resolveram acompanhar,
Os planetas a se alinhar
Traçavam a minha sina
E o universo inteiro
Me deu um belo roteiro
Com inspiração Divina.

Deus me deu dons e talentos
E me fez desenvolver
Me deu lápis e papel
E me ensinou a escrever
A minha poética lira
É mais rara que safira
Que tesouro, diamantes,
Os versos descem de cima
Cada estrofe, cada rima,
De mundos muito distantes.

Agradeço ao Senhor Deus
Pelos meus dons e talentos
Quero usá-los sabiamente
Para consolar lamentos
Conservar nossas memórias
Espalhar nossas histórias
Pelo seio da nação
Quero ser reconhecido
Como um ser que foi nascido
Pra representar o sertão.

Agradeço aos amigos 
Que me desejam sucesso
Continuarei rimando
E à vocês darei acesso
À tudo o que produzir
Farei sempre alguém sorrir
Com minha estima elevada
Parabéns para o poeta
Deus lhe dê rima completa
Seja sua mente abençoada.

Hoje faço 23 anos, e queria agradecer a cada amigo que me ajudou na batalha até aqui, cada amigo é um tesouro, e prezo muito por cada um de vocês. De todo o Brasil recebo votos de felicidade, força, paz e luz, todos os dias, e vejo que nasci abençoado.

Amo cada um que me deseja sucesso, paz e saúde, amo cada palavra amiga de consolo quando estou triste e cada palavra de força quando estou fraco. Não sou perfeito e estou bem longe de ser, mas enquanto eu for vivo e puder encher o mundo de beleza, é o que vou fazer, nasci pra isso.

Poeta é a eternidade de tudo.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

ÚLTIMOS SILÊNCIOS

A MORTE



Dos milhares mistérios do universo, esse deve ser um dos maiores, se não for o maior. A morte pode ser encarada de várias formas, em algumas tradições é sentida com dor e sofrimento enquanto em outras é motivo de celebração e comemoração.

A dor da partida de um ente querido é algo inexplicável, é uma mistura de angústia e saudade. Mas por que estou falando tudo isso? Porque quero falar sobre a visão do sertão sobre essa que amedronta muitos e alivia outros muitos.

Desde cedo tive que lidar com a morte por perto. Meu avô, minha bisavó, meu tio, minha tia, meu primo, enfim, muitas pessoas de minha vida que se foram, mas um consolo eu tive, e por isso nunca senti tanta dor com a partida, a conformação me foi plantada desde sempre e aprendi que o que nos resta é aceitar.

Essa conformação veio através de minha avó materna. Nos velórios aqui em casa, ela olhava para o ente morto com um olhar sereno e franco, e mexia os lábios devagar, talvez fazendo uma prece a Deus pela alma daquele que se ia. Nunca a vi derramando uma lágrima pela morte, frieza de sentimentos? Tenho certeza que não. Para uma pessoa que perdeu a mãe e o pai no mesmo ano com apenas cinco anos de idade, ela tinha mesmo que ser bem forte.

A força dessa sertaneja, minha avó, é admirável. Eu tenho o sertão dentro de casa e não percebia. O mesmo olhar franco e singelo que vi no Missí, vejo na minha avó. O sertão tem algo especial, o povo é simples e forte.

No Missí, vi um certo temor sobre o assunto. Creem muito em espíritos, são bastante religiosos e supersticiosos. Ao passar numa estrada a caminho da igreja de pedra construída pelos índios, passamos em um local onde a morte marcara seu território. Os ossos de uma vaca se espalhavam pelo chão como muitas estrelas no céu. De longe se via os pontos brancos em meio ao solo barrento, aquilo me chamou muita atenção e quis ir até lá registrar tudo.


Dessa queixada eu trouxe três dentes, para que fosse mais presente em mim tudo aquilo que eu estava vendo. Aqueles ossos, de tão seco, pareciam ser de gesso ou plástico. Para os moradores locais, pegar naqueles ossos atrasava nossa vida, muitos não pegavam por medo mesmo. Diziam que aquela vaca morreu de um mal que não tinha jeito. Nunca soube o que isso significava mas também nunca perguntei, de crenças não se duvida.

Mas não só uma vaca a morte arrebatou, falemos então de gente. A morte é levada com muita naturalidade naquele pequeno pedaço de chão. A perda de alguém querido, claro que causa dor e sofrimento, alguns são mais fortes e superam logo outros sofrem por mais tempo, mas o certo é que no final, a conformação prevalece.

Dizem ser a única certeza da vida. Dizem que é apenas um começo. Dizem que tem mais depois dela, dizem que não se tem nada. A morte já foi motivo de tantos debates, livros, filmes, etc. Mas uma coisa é certa, ela virá sobre todos nós.

O sertão me ensinou a ser paciente, forte e compreensível com ela. Quando perdi meu avô, sabia que tinha que superar, e aquele olhar franco de minha avó, se fez em meu rosto, e mexi os lábios devagar como ela, talvez fazendo uma prece pela alma daquele que se foi.

Eu finalizo esse texto dizendo que o sertão é um lugar de beleza, de liberdade, de riquezas naturais, de humildade e sinceridade. O povo sertanejo é um povo paciente, conformado, feliz (sem precisar de muito pois a felicidade deles se manifesta nas mais pequenas coisas), enfrentam a morte, as vezes vencem, as vezes perdem, e os que vencem, voltam da batalha com um olhar mais penetrante e mais ardente que o próprio sol que lhes castiga dia após dia.



Fico feliz em compartilhar minha viagem com todos vocês e fico mais feliz ainda em saber que trago para vocês tudo o que encontrei dentro de mim. Como disse Guimarães Rosa: O sertão é dentro da gente. 

Finalizo meus escritos agradecendo a todos que tiraram seu precioso tempo para ler meus escritos, e dizer que me alegra a alma saber que vocês entenderam o que falei aqui. 

Muito grato,
Rafael Brito, O Bordador de Histórias.



quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

UM NATAL NO SERTÃO

O VERDADEIRO ESPÍRITO NATALINO


Eu nunca tinha passado um natal no sertão com minhas irmãs. Decidi ir dessa vez, ficar um pouco com minha irmã que acabara de perder um bebê, pensei que minha visita, depois de tanto tempo, alegraria mais o coração dela.

Uma pessoa muito especial em minha vida me incentivou a ir, eu até um dia antes da viagem ainda estava confuso em relação a ir ou não ir. Decidi no dia anterior que iria. E garanto que foi muito valioso ter decidido por ir. Essa pessoa que me aconselhou e incentivou a ir, tem grande parte em tudo o que escrevo aqui, se não fosse sua força e carinho, não teria ido, consequentemente, não estaria escrevendo nada disso, essa pessoa se chama Jéssica Brenda e é um grande tesouro na minha vida.

O dia estava calmo e esperávamos somente a noite para a ceia. O dia custou um pouco a cair cansado mas quando caiu, a noite veio com sua força e brilho. O céu do sertão parece um vestido azulado bordados com fios brilhantes. Um mar imenso a cima das nossas cabeças coberto de imaginação e magia.

Quantos segredos aquele céu carrega, ninguém sabe ao certo, mas sabem que devem olhar pra ele quando as coisas estão difíceis e quando a vida é dura. O povo do sertão tem uma fé do tamanho do céu que os recobre.

Fomos, no quase escuro da noite, em direção a casa da sogra de minha irmã, onde seria a ceia para toda a família. Alguns ficaram tímidos com minha presença e eu com a presença de alguns. Ali se reuniram irmãos, tios, sobrinhos, netos, avós. Uma família grande, típica família sertaneja, e sempre muito unida.

Trocaram risadas, brincadeiras, e por fim, chegou a hora da ceia. Tudo muito simples mas muito gostoso, me deliciei com tudo o que me ofertaram. Mas, antes da ceia, mais uma manifestação de fé do povo, uma roda de mãos dadas diante a mesa, celebrava a vida e tudo o que ela lhes proporcionava. Depois da reza, a mais conhecida, podíamos então comer.

Depois da ceia, muito simples, fomos para fora com cadeiras e sentamos em círculo, nesse momento, toda a sabedoria do povo nordestino foi posta pra fora, desnudos de alma com uma força voraz de contadores de histórias.

Sentei-me em meio a eles, e logo tive oportunidade de falar sobre o que fazia. Quando menos espero, me deparo com a seguinte cena: um jovem de 22 anos, nascido e criado na cidade, sem nunca ter pegado no cabo de uma enxada para capinar um terreno, sem nunca ter que andar léguas para buscar água, contando histórias para aquele povo vivido, sofrido e feliz.

Todos em silêncio, respeitavam e viam que eu era parte daquilo, que longe dali, eu era a voz deles, a representação do sertanejo forte e destemido que luta até com a morte. 

E ali, por horas, contei as histórias que aprendi por ai. Declamei, contei, cantei e pelo olhar brilhante e risonho daquele povo, encantei tudo o que estava ao meu redor como eles também haviam me encantado, ou seja, foi apenas uma retribuição a tudo o que o sertão me ensinou.

A humildade me fez pensar em ser melhor e ser melhor é ser humilde. A emoção toma conta do meu peito ao escrever essas palavras pois naquele momento, cada riso era uma medalha para a minha estrada.



Continua...

O AMBIENTE POÉTICO SERTANEJO

POR TODA PARTE ALGO ME INSPIRA


Para todos os lados que olho a inspiração me cerca. A beleza desse mundo afastado do que conheço me é rara aos olhos. Os meus sentidos parecem serem aguçados com o ambiente diferente e ao mesmo tempo tão familiar.

Quando estou aqui, sinto como se tivesse vivido uma vida inteira nesse meio. Me é tão natural que tenho a ligeira impressão de que tive uma outra vida aqui como sertanejo. Talvez seja isso ou o sangue que corre nas minhas veias que denunciam quem eu realmente sou. Como diz alguns amigos, sou um jovem com alma velha.

Essa alma "velha" deve ter sido a alma de um sertanejo nato e fico muito feliz dessa alma ter encarnado em mim. Vejo as coisas e me admiro, não que seja algo novo, mas como se aquilo que vejo fosse apenas uma lembrança de tudo aquilo que minha alma viveu outrora, e como disse Guimarães Rosa: O que lembro, tenho.

Essas "lembranças" de outrora, me faz ver o sertão com muito mais propriedade e falar dele com muito mais autoridade. Continuando com as palavras de Guimarães: O sertão é dentro da gente.

Todas as vidas que devo ter vivido com toda a certeza do mundo foi no sertão. O prazer é tão imenso de estar de volta. Me sinto em casa.

Escrevo imaginando o que os amigos que leem pensam quando veem tantas verdades particulares em um só texto (ou em dez). Talvez se identifiquem com tudo o que digo, talvez só com uma parte ou talvez não se identifiquem, mas uma coisa é certa, o sertão, falado, cantado ou representado, encanta a quem tiver contato com ele de qualquer forma possível.

Cantado na voz de Luiz Gonzada, descrito nas palavras de Guimarães Rosa, ou de Cecília ou de Raquel, rasgado nas violas dos cantadores, narrados nos folhetos dos cordelistas, exaltado, amado, respeitado, reconhecido. O sertão tem sido inspiração para muitos poetas, cantores, atores, escritores, e como disse o mestre Patativa do Assaré: A tua beleza é tanta / Que o poeta canta, canta / Inda fica o que cantar.

A beleza e a inspiração do sertão é infinita. Enquanto existir sertão, alguém inspirado por ele também existirá.

O sertão é do tamanho do mundo - Guimarães Rosa.




Continua...

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

OS DETALHES

O QUE FAZ A DIFERENÇA


O que faz a diferença são os detalhes, principalmente os que trago pra casa. São eles que ficam incrustados como pedras preciosas nos meus textos e dão beleza e poesia. A poesia são os detalhes das belezas vistas a olho nu mas não percebidas pelo olhar comum.

O olhar do poeta é rico e enriquece o próximo. A beleza se revela no olhar do poeta. Tudo o quanto é belo precisa receber o valor devido. Ainda bem que existem os poetas para valorizar, com seu olhar profundo, a beleza das coisas.

Nessa viagem, a  beleza foi facilmente percebida por mim.  Por todos os lados que olhava, o que via era beleza e poesia. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser compartilhar, nem que fosse através de textos e fotos o que via e o que sentia.

No caminho de Amontada para o Missí, eu sentia aquele cheiro de terra molhada e respirava fundo, tentando aproveitar cada partícula de ar que entrava em meus pulmões. Aquele cheiro de infância, me trazia lembranças tão longínquas que por algum momento eu me senti transportado pelo tempo me sentindo de novo menino.

O vento assanhava meu cabelo e eu sentia a liberdade de uma criança batendo em meu peito, me convidando a ser de novo mais humano. Enquanto os meus olhos olhavam ao longe, minha boca soltava um sorriso diferente, cheio de doçura e poesia. 

Era como se nunca tivesse ido naquele lugar, parece que tudo era novo. Talvez por que agora, ia de coração aberto e alma nua. E tudo o que eu queria naquele momento era viver, nada mais do que viver. 

Nem o tempo, nem o mundo, nem as pessoas, nada me cobrava nada, acho que pela primeira vez. Os meus ouvidos, concentrados naquele vento fresco, ouviam somente o silêncio e um grito de paz que me estraçalhava o ser. Eu era somente uma faísca da invenção divina ou talvez um animal selvagem que voltou ao seu estado natural.

Eu espero que consiga transmitir através de palavras o tamanho da emoção que sinto sabendo que faço parte de algo tão belo. Todas as palavras que escrevo vem do mais profundo de minha emoção e de minha sinceridade. Algumas coisas não tenho como descrever, pois são muito complexas para o ser humano, mas o que pude descrever, o fiz.

A casinha de barro, a bicicleta com uma bolsa de palha, o casco da lesma no rio, a areia fria, o cheiro de terra molhada, os galhos secos, os ossos de boi na estrada, a própria estrada, os sorrisos, os abraços, os apertos de mão daquela gente, as histórias, a comida, o gosto da comida, o cheiro da comida, tudo isso são detalhes que ficaram para sempre, impregnados em minha mente e no meu ser.


Cada detalhe que consegui apreender com a minha sensibilidade, eu guardo dentro de mim como uma pedra preciosa, e a junção de tudo, me dá um tesouro de valor inestimável. 

Depois de olhar tanto aqueles detalhes olhei pro céu azul e infinito, respirei fundo, passei a mão na testa, engoli a saliva e descobri que eu era apenas mais um detalhe, como todos os outros, no meio de um imenso rio de fantasia, amor e poesia.

Continua...


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