quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

UM NATAL NO SERTÃO

O VERDADEIRO ESPÍRITO NATALINO


Eu nunca tinha passado um natal no sertão com minhas irmãs. Decidi ir dessa vez, ficar um pouco com minha irmã que acabara de perder um bebê, pensei que minha visita, depois de tanto tempo, alegraria mais o coração dela.

Uma pessoa muito especial em minha vida me incentivou a ir, eu até um dia antes da viagem ainda estava confuso em relação a ir ou não ir. Decidi no dia anterior que iria. E garanto que foi muito valioso ter decidido por ir. Essa pessoa que me aconselhou e incentivou a ir, tem grande parte em tudo o que escrevo aqui, se não fosse sua força e carinho, não teria ido, consequentemente, não estaria escrevendo nada disso, essa pessoa se chama Jéssica Brenda e é um grande tesouro na minha vida.

O dia estava calmo e esperávamos somente a noite para a ceia. O dia custou um pouco a cair cansado mas quando caiu, a noite veio com sua força e brilho. O céu do sertão parece um vestido azulado bordados com fios brilhantes. Um mar imenso a cima das nossas cabeças coberto de imaginação e magia.

Quantos segredos aquele céu carrega, ninguém sabe ao certo, mas sabem que devem olhar pra ele quando as coisas estão difíceis e quando a vida é dura. O povo do sertão tem uma fé do tamanho do céu que os recobre.

Fomos, no quase escuro da noite, em direção a casa da sogra de minha irmã, onde seria a ceia para toda a família. Alguns ficaram tímidos com minha presença e eu com a presença de alguns. Ali se reuniram irmãos, tios, sobrinhos, netos, avós. Uma família grande, típica família sertaneja, e sempre muito unida.

Trocaram risadas, brincadeiras, e por fim, chegou a hora da ceia. Tudo muito simples mas muito gostoso, me deliciei com tudo o que me ofertaram. Mas, antes da ceia, mais uma manifestação de fé do povo, uma roda de mãos dadas diante a mesa, celebrava a vida e tudo o que ela lhes proporcionava. Depois da reza, a mais conhecida, podíamos então comer.

Depois da ceia, muito simples, fomos para fora com cadeiras e sentamos em círculo, nesse momento, toda a sabedoria do povo nordestino foi posta pra fora, desnudos de alma com uma força voraz de contadores de histórias.

Sentei-me em meio a eles, e logo tive oportunidade de falar sobre o que fazia. Quando menos espero, me deparo com a seguinte cena: um jovem de 22 anos, nascido e criado na cidade, sem nunca ter pegado no cabo de uma enxada para capinar um terreno, sem nunca ter que andar léguas para buscar água, contando histórias para aquele povo vivido, sofrido e feliz.

Todos em silêncio, respeitavam e viam que eu era parte daquilo, que longe dali, eu era a voz deles, a representação do sertanejo forte e destemido que luta até com a morte. 

E ali, por horas, contei as histórias que aprendi por ai. Declamei, contei, cantei e pelo olhar brilhante e risonho daquele povo, encantei tudo o que estava ao meu redor como eles também haviam me encantado, ou seja, foi apenas uma retribuição a tudo o que o sertão me ensinou.

A humildade me fez pensar em ser melhor e ser melhor é ser humilde. A emoção toma conta do meu peito ao escrever essas palavras pois naquele momento, cada riso era uma medalha para a minha estrada.



Continua...

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